A Bíblia e a Língua Portuguesa: como a gramática e os gêneros literários ajudam na interpretação


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@Autor | Dr. Cláudio Ananias / Convidado: Prof. Daniel Ewerton

A Bíblia e a Língua Portuguesa: como a gramática e os gêneros literários ajudam na interpretação bíblica

A leitura da Bíblia é uma experiência espiritual, mas também envolve atenção à linguagem. No episódio 39 do Podcast Cristianismo Inteligente, o Prof. Daniel Ewerton explicou como o conhecimento da língua portuguesa — suas regras gramaticais, gêneros literários e figuras de linguagem — pode enriquecer a compreensão das Escrituras.
Neste artigo, vamos explorar os principais pontos da conversa, mostrando como a gramática e os estilos textuais nos ajudam a interpretar a Palavra de Deus com mais clareza.


1. Bíblia e Língua Portuguesa: uma relação fundamental

1.1 Perspectiva textual

A Bíblia reúne diferentes gêneros textuais: narrativas, poesias, profecias, leis, cartas, entre outros. Reconhecer esses formatos ajuda o leitor a compreender o propósito de cada trecho. Um salmo, por exemplo, não deve ser lido da mesma forma que uma narrativa histórica.

1.2 Perspectiva linguística

Além da estrutura textual, a gramática também é essencial. Pontuação, tempos verbais, conectores e até a escolha de palavras (lexicais) influenciam diretamente na interpretação. Entender esses elementos é crucial para uma leitura mais fiel ao sentido do texto bíblico.

2. O papel da gramática na interpretação bíblica

2.1 Importância dos tempos e modos verbais

Os verbos revelam quem fala, em que tempo e com qual intenção. O uso de pronomes e conjunções também orienta a mensagem. Um detalhe gramatical pode esclarecer se a frase é uma ordem, uma promessa ou uma explicação.

2.2 Pontuação e mudanças de sentido

A vírgula é um detalhe que pode alterar completamente a interpretação de um texto bíblico.

  • Em Êxodo 20, o mandamento “Não matarás” só mantém seu sentido verdadeiro sem vírgula. Caso contrário, pareceria autorizar matar.

  • Em João 14, a posição da vírgula define se Jesus já preparou as moradas celestiais ou se ainda iria construí-las.

Esses exemplos mostram como observar a pontuação é indispensável para evitar distorções teológicas.


3. Os gêneros literários presentes na Bíblia

3.1 Gênero jurídico: Presente em Levítico, Números e Deuteronômio, estabelece leis e normas para a vida espiritual, civil e social de Israel.

3.2 Gênero poético: Usado principalmente nos Salmos, expressa sentimentos profundos: alegria, tristeza, confiança, louvor e adoração. É o gênero que mais toca a alma do leitor.

3.3 Gênero profético: Apresenta denúncias contra o pecado, chamados ao arrependimento e promessas messiânicas. Os profetas eram “megafones de Deus” para um povo endurecido.

3.4 Gênero evangelho: Relata a vida, os ensinos, os milagres e a obra de Jesus. Mais que história, tem objetivos teológicos e espirituais: revelar quem Cristo é e anunciar a salvação.

3.5 Gênero epistolar: As cartas do Novo Testamento foram escritas para ensinar doutrinas, corrigir erros e encorajar os cristãos em meio a desafios. São textos práticos e pastorais.

3.6 Outros gêneros:  Épico: narrativas de líderes como Moisés, Josué e Davi. Tragédia: histórias de personagens que começam bem, mas caem em decadência, como Saul.

4. Sequências textuais e sua função

4.1 Narrativa: Relata acontecimentos em sequência temporal. Exemplo: Jesus acalmando a tempestade em Lucas 8.

4.2 Descritiva: Apresenta retratos verbais. Exemplo: a descrição de Jó como homem íntegro, temente a Deus e próspero.

4.3 Argumentativa: Procura convencer o leitor. Exemplo: Paulo em Romanos 6 argumenta que a graça não é permissão para viver no pecado.

4.4 Expositiva/Explicativa: Esclarece e justifica. Exemplo: João 3:16, onde Jesus explica a Nicodemos o propósito de sua missão.

4.5 Injuntiva: Apresenta ordens e proibições. Exemplo: os Dez Mandamentos e o Sermão do Monte.


5. Figuras de linguagem na Bíblia

5.1 Metáfora: “O Senhor é a minha rocha” (Sl 18:2). Jesus: “Eu sou a porta”.

5.2 Eufemismo: “Adormecer” como sinônimo de morte; “conhecer” como intimidade conjugal.

5.3 Hipérbole: “As cidades são fortificadas até os céus” (Dt 1:28). Um exagero para enfatizar a grandeza.

5.4 Ironia: Elias ironiza os profetas de Baal: “Talvez ele esteja dormindo ou viajando” (1Rs 18:27).

5.5 Personificação: “A justiça e a paz se beijaram” (Sl 85:10). Virtudes são tratadas como pessoas.

5.6 Catacrese: “Pé do monte”, “braço da cadeira”. Uso figurado por falta de termo próprio.

5.7 Paradoxo: “Quem perder a sua vida por amor de mim a salvará” (Mc 8:35). Ideias aparentemente contraditórias, mas cheias de verdade espiritual.

5.8 Metonímia: “Lia o profeta Isaías” (At 8:28), ou seja, lia o livro escrito por Isaías.


Conclusão

A relação entre a Bíblia e a língua portuguesa mostra que interpretar a Palavra de Deus vai além da leitura superficial. A gramática, os gêneros literários e as figuras de linguagem são ferramentas preciosas para compreender melhor as Escrituras.
Como afirmou o Prof. Daniel Ewerton, ler a Bíblia com atenção ao texto é honrar a inspiração divina que guiou cada palavra.

Clique aqui e confira o episódio na íntegra: 

Ep 039 - Prof. Daniel Ewerton - A Bíblia e a Língua Portuguesa.

Site: cristianismointeligente.com

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Que Deus abençoe a todos.

Autor: Dr. Cláudio Ananias / Convidado: Prof. Daniel Ewerton

Publicação original em: 18 de jul. de 2025

Categoria: PODCAST, TEOLOGIA

Foto de capa: lilartsy na Unsplash